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segunda-feira, 28 de julho de 2014

VAMPIRISMO E PARASITISMO ESPIRITUAL

1. CONCEITOS: 

“Ação pela qual Espíritos involuídos, arraigados às paixões inferiores, se imantam à organização psicofísica dos encarnados (e desencarnados), sugando-lhes a substância vital.” (Martins Peralva- Estudando a Mediunidade.) 

“O parasitismo espiritual (ou vampirismo) é um processo grave de obsessão que pode ocasionar sérios danos àquele que se faz hospedeiro (o obsidiado), levando-o à loucura ou até mesmo à morte.” (Espiritismo de A a Z, citando Suely Caldas Schubert, Obsessão/Desobsessão: profilaxia e terapêutica espíritas.9 ed. Rio:FEB, 1994, p. 192)

2. ESPÉCIES: 

1 - espíritos muito apegados às sensações materiais prosseguem, após o túmulo, a buscar as sensações que desfrutavam quando encarnados, se vinculando aos encarnados que vibram em faixa idêntica, parceiros de paixões desequilibrantes. 

2 - os obsessores, por vingança e ódio, ligam-se às suas vítimas com o intuito de absorver-lhes a vitalidade, enfraquecendo-as, em busca de maior domínio. 

3 - existem aqueles que, já libertos do corpo físico, ligam-se, inconscientemente, aos seres amados que permanecem na crosta terrestre, mas sem o desejo de fazer o mal. 

4 - entre os encarnados, existem pessoas que vivem permanentemente sugando as forças de outros seres humanos, que se deixam passivamente dominar. 

Vampirismo Recíproco: 

      O vampirismo pode, ainda, comportar a forma de Vampirismo Recíproco, onde ambos os espíritos envolvidos alimentam-se dos fluidos doentios do seu companheiro, apegando- se a ele instintivamente. 
      Um exemplo é o caso relatado na obra “Nos Domínios da Mediunidade”, onde um homem desencarnado e uma mulher encarnada vivem em regime de escravidão mútua, nutrindo-se da emanação um do outro. Ela busca ajuda na sessão do trabalho desobsessivo realizado por um centro espírita e, com o concurso de entidades abnegadas, consegue o afastamento momentâneo do espírito obsessor. Bastou, porém, que o espírito fosse retirado para que ela o fosse procurar, reclamando sua presença. 


3. CAUSAS EFETIVAS: 


- desregramentos emocionais (tristeza, cólera, medo, etc.) 
- Glutonaria 
- Excessos alcoólicos 
- Fumo 
- desvios sexuais 
       No capítulo III da Obra “Missionários da Luz”, merecem destaque as passagens onde André Luiz e Alexandre observam médiuns que apresentam alguns dos desregramentos retro mencionados: 



3.1. Sexo: 

Pessoa observada:
 Rapaz que se exercitava no desenvolvimento mediúnico, freqüentando um centro numa cidade brasileira, em que o Espírito Alexandre era mentor. Casado há oito meses, no entanto era atraído irresistivelmente para ambientes malignos, não resistindo às atrações de atividades doentias no campo sexual, tornando-se por isto mesmo ponto de atração para entidades grosseiras no mundo espiritual, que agiam à maneira imperceptíveis vampiros. 

Observação de André Luiz: “- As glândulas geradores emitiam fraquíssima luminosidade que parecia abafa por aluviões de corpúsculos negros, a se caracterizarem por espantosa mobilidade. Começavam a movimentação sob a bexiga urinária e vibravam ao longo de todo o cordão espermático, formando colônias compactas nas vesículas seminais, na próstata, nas mucosas uretrais, invadiam os canais seminíferos, e lutavam com as células sexuais, aniquilando-as. As mais vigorosas daquelas feras microscópicas, situavam-se no epidídimo, onde absorviam, famélicas, os embriões delicados da vida orgânica. Estava assombrado. Que significava aquele acervo de pequeninos seres escuros? Pareciam imantados uns aos outros na mesma faina de destruição. Seriam expressões mal conhecidas da sífilis?” 

Resposta de Alexandre - “ - Não, André, não temos aí sob os olhos o espiroqueta de Schaudinn, nem qualquer nova forma suscetível de análise material por bacteriologistas humanos. São bacilos psíquicos da tortura sexual, produzido pela sede febril de prazeres inferiores. O dicionário médico do mundo não conhece e, na ausência de terminologia adequada aos seus conhecimentos, chamemos-lhes de larvas, simplesmente. Têm sido cultivados por este companheiro não só pela incontinência no domínio das emoções próprias, através de experiências sexuais variadas, senão também pelo contacto com entidades grosseiras, que se afinizam com as predileções dele, entidades que visitam com freqüência, à maneira de imperceptíveis vampiros. O pobrezinho ainda não pode compreender, que o corpo físico é apenas leve sombra do corpo perispiritual, e não se capacitou de que a prudência, em matéria de sexo, é equilíbrio da vida, e recebendo as nossas advertências sobre a temperança, acredita ouvir remotas lições de aspectos dogmático exclusivo, no exame da fé religiosa. (...) 


3.2. Álcool. 

Pessoa observada: Cavalheiro maduro, que tentava a psicografia, na mesma reunião de desenvolvimento mediúnico. 

Observação de André Luiz: “- Semelhava-se o corpo a um tonel de configuração caprichosa, de cujo interior escapavam certos vapores muito leves, mais incessantes. Via-se-lhe a dificuldade para sustentar o pensamento com relativa calma. Não tive qualquer dúvida. Deveria ele utilizar de alcoólicos em quantidade. O aparelho gastro-intestinal parecia totalmente ensopado em aguardente, porquanto essa substância invadia todos os escaninhos do estômago e começando a fazer-se sentir nas paredes do estômago, manifestava a sua influência até o bolo fecal. Espantava-me o fígado enorme. Pequeninas figuras horripilantes, postavam- se, vorazes, ao longo da veia horta, lutando desesperadamente com os elementos sangüíneos mais novos. Toda a estrutura do órgão se mantinha alterada. Terrível ingurgitamento. Os lóbulos cilíndricos, modificados, abrigavam células doentes e empobrecidas. O baço apresentava anomalias estranhas.” 

Esclarecimento de Alexandre: “- Os alcoólicos aniquilavam-no vagarosamente: 

a. Este companheiro permanece completamente desviado em seus centros de equilíbrio vital; 
b. Todo o sistema endocrínico foi atingido pela atuação tóxica; 
c. Inutilmente trabalha a medula para melhorar os valores da circulação; 
d. Em vão esforçam-se os centros genitais para ordenar as funções que lhe são peculiares, porque o álcool excessivo determina modificações deprimentes sobre a própria cromatina; 
e. Debalde trabalham os rins na excreção dos elementos corrosivos, porque a ação perniciosa da substância em estudo anula diariamente grande número de nefrons; 
f. Os pâncreas, viciado, não atende com exatidão ao serviço de desintegração dos alimentos; 
g. Larvas destruidoras exterminam as células hepáticas; 
h. Profundas alterações modificam as disposições do sistema nervoso vegetativos; 
i. Não fossem as glândulas sudoríparas, tonar-se-lhe-iam impossível a continuação da vida física. 


3. 3. Glutonaria. 

Pessoa observada: Dama simpática e idosa ao desenvolvimento da mediunidade de incorporação, na mesma reunião; 

Observação de André Luiz: “- Fraquíssima luz emanava de sua organização mental e, desde o primeiro instante, notara-lhe as deformações físicas. 

a. O estômago dilatara-se horrivelmente; 
b. O fígado, consideravelmente aumentado, demonstrava indefinível agitação; 
c. Desde o duodeno à sigmóide, notavam-se anomalias de vulto; 
d. Guardava a idéia de presenciar não o trabalho de um aparelho digestivo usual, e sim, de vasto alambique gorduroso, cheirando a vinagre de condimentação ativa; 
e. Em grande zona do ventre superlotado de alimentação, viam-se parasitos conhecidos, mas além deles, divisava outros corpúsculos semelhantes a lesmas voracíssimas que se agrupavam em grandes colônias desde os músculos e as fibras do estômago até a válvula íleo-cecal. Semelhantes parasitos atacavam os sucos nutritivos, com assombroso potencial de destruição. 

Esclarecimento de Alexandre: “- Temos aqui uma pobre amiga desviada nos excessos de alimentação. Todas as suas glândulas e centros nervosos trabalham para atender as exigências do sistema digestivo. Descuidada de si mesma, caiu na glutonaria crassa, tornando-se presa de seres de baixa condição.” 


4. PROCESSO DE VAMPIRIZAÇÃO: 

4.1.Produção das larvas mentais: 

A cólera, a intemperança, os desvarios do sexo e as viciações da personalidade formam criações inferiores, chamadas de larvas mentais, que são o alimento das entidades infelizes, portadoras de vigoroso magnetismo animal, contaminando o meio ambiente onde quer que o responsável pela sua produção circule. Formam nuvens de bactérias variadas, obedecendo ao princípio das afinidades. 

4.2 O Contágio: 
      Para nutrir-se desse alimento, o desencarnado agarra-se aos companheiros de ignorância ainda encarnados, sugando-lhes a substância vital. 
      O médico Dias da Cruz lembra que "toda forma de vampirismo está vinculada à mente deficitária, ociosa ou inerte que se rende às sugestões inferiores que a exploram sem defensiva". E explica a técnica utilizada pelos espíritos vampirizadores, situando-a nos processos de hipnose. 
      Por ação do hipnotizador, o fluido magnético derrama-se no campo mental do paciente voluntário, que lhe obedece o comando. Uma vez neutralizada a vontade do sujeito, as células nervosas estarão subjugadas à invasão dessa força. Os desencarnados de condição inferior, consciente ou inconscientemente, utilizam esse processo na cultura do vampirismo. 
      Justapõem-se à aura das criaturas que lhes oferecem passividade, sugando-lhes as energias, tomam conta de suas zonas motoras e sensoriais, inclusive os centros cerebrais (linguagem e sensibilidade, memória e percepção), dominando-as. 
      De acordo com Marlene Rossi Severino Nobre, membro da Associação Médico Espírita do Brasil (Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 12, páginas 30-32), os espíritos inferiores desencarnados produzem substâncias destrutivas, que atingem os pontos vulneráveis de suas vítimas. 
      Essas substâncias, conhecidas como simpatinas e aglutininas mentais, têm a propriedade de modificar a essência do pensamento dos encarnados, que vertem contínuos dos fulcros energéticos do tálamo, no diencéfalo. Esse ajuste entre desencarnados e encarnados é feito automaticamente, em absoluto primitivismo nas linhas da natureza. Os obsessores tomam conta dos neurônios do hipotálamo, "acentuando a dominação sobre o feixe amielínico que o liga ao córtex frontal, controlando as estações sensíveis do centro coronário que aí se fixam para o governo das excitações e produzindo nas suas vítimas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático e o parassimpático". (o nosso mentor André Luiz (Evolução Em Dois Mundos, Francisco C. Xavier, 11ª ed,1989, pg. 117-118) 
      A propósito, Allan Kardec (A Gênese, 29ª ed., FEB, pg. 305) relata que “Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele...” Ainda orienta o Codificador (mesma obra, pg. 285), que“Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta quando, por sua extensão e irradiação, o perispírito com eles se confunde. Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com quem se acha em contato molecular. (...)Se os eflúvios maus são permanentes e enérgicos, podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades.” 

5. AS ENTIDADES EXPLORADORAS. 
      “vampiro é toda entidade ociosa que se vale, indebitamente, das possibilidades alheias e, em se tratando de vampiros que visitam os encarnados, é necessário reconhecer que eles atendem aos sinistros propósitos a qualquer hora, desde que encontrem guarida no estojo de carne dos homens.”(Missionários da Luz, André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier cap. 4.1 ) 
      Tendo vivido muito mais de sensações animalizadas que de sentimentos e pensamentos puros, algumas criaturas, além do túmulo, prosseguem imantados aos ambientes domésticos que lhes alimentavam o campo emocional. Aos infelizes que caíram em semelhante condição de parasitismo, as larvas servem de alimento habitual. 
      No livro "Evolução em dois Mundos", André Luiz compara os parasitas existentes nos reinos inferiores da Natureza aos "parasitas espirituais", pois os meios utilizados pelos desencarnados, que se vinculam aos que permanecem na esfera física, obedecem aos mesmos princípios de simbiose prejudicial. 
      Reportando-se aos ectoparasitas (os que limitam sua ação às zonas de superfície, como os mosquitos sobre a pele) e aos endoparasitas (os que se alojam nas reentrâncias do corpo a que se impõem, como a infestação de elementos saprófagos), o autor traça um importante paralelo entre estes e a ação dos obsessores: 

DESENCARNADOS AGINDO COMO ECTOPARASITA: absorvem as emanações vitais dos encarnados que com eles se harmonizem. São os que se aproximam eventualmente dos fumantes, dos alcoólatras e de todos aqueles que se entregam aos vícios e desregramentos de qualquer espécie. 

DESENCARNADOS AGINDO COMO ENDOPARASITA: conscientes os que, "após se inteirarem dos pontos vulneráveis de suas vitimas”, tomam conta de seu campo mental "impondo-lhes ao centro coronário a substância dos próprios pensamentos, que a vitima passa a acolher qual se fossem os seus próprios.” (Evolução em dois Mundos, André. Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier - Waldo Vieira, cap. XIV a XV, 5.. ed. FEB.). 

      Os obsessores utilizam também as formas ovóides, para intensificar o cerco sobre suas vítimas, imantando-as a estas, para instalar o parasitismo espiritual. Envolvido nos fluídos dos obsessores, com o pensamento controlado pela interferência hipnótica dos algozes, o obsidiado passa a viver no clima que estes criaram, agravado pelas ondas mentais altamente perturbadoras dos ovóides, vendo inclusive os clichês mentais que projetam em fenômenos alucinatórios ou ouvindo-lhes as acusações na acústica da mente. 

O corpo espiritual se transforma em um corpo ovóide em três casos: 

1º) O homem selvagem quando retorna, após a morte do corpo denso, ao plano espiritual, sente-se atemorizado diante do desconhecido. A vastidão cósmica o assusta, bem como a visão de Espíritos, mesmo os bons e sábios, pois crê estar frente a deuses e, por isso, refugia-se na choça que lhe serviu de moradia terrestre. Anseia por retornar à taba onde vivera e ao convívio dos seus e alimenta-se das vibrações dos que lhe são afins. Nestas condições estabelece-se nele o monoideísmo, isto é, idéia fixa, abstraindo-se de tudo o mais. O pensamento que lhe flui da mente permanece em circuito viciado, continuamente. É o monoideísmo auto-hipnotizante. Não havendo outros estímulos, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, tal como ocorre aos órgãos do corpo físico. 

2º) Desencarnados, em profundo desequilíbrio, aspirando a vingar-se ou portadores de vicioso apego, envolvem e influenciam aqueles que lhes são objeto de perseguição ou atenção e auto-hipnotizam-se com as próprias idéias, que se repetem indefinidamente. Em conseqüência, os órgãos perispiríticos se retraem, por falta de função, assemelhando-se então a ovóides, vinculados às próprias vítimas que, de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente, a influenciação, por sentirem culpa, remorso, ódio, egoísmo, externados em vibrações incessantes, sob o comando da mente. Configura-se, neste caso, a parasitose espiritual. 

3º) Os grandes criminosos, ao desencarnar, ver-se-ão atormentados pela visão repetida e constante dos próprios crimes, vícios e delitos, em alucinações que os tornam dementados. Os clichês mentais que exteriorizam torna-lhes o fluxo do pensamento vicioso, resultando no monoideísmo auto-hipnotizante. E tal como nos casos anteriores, perdem os órgãos do corpo espiritual, transubstanciando-se em ovóides. 



6. O COMBATE AO VAMPIRISMO 

6.1. Reencarnações Expiatórias: são conseqüências da lei de ação e reação, 
constituindo-se no recurso utilizado pela Providência para devolver o equilíbrio aos espíritos, quando a reconciliação pelo amor torna-se inviável. A família consangüínea é o instrumento utilizado pela Providência para promover o resgate dos espíritos envolvidos. Inicialmente, reencarna o que tiver mais méritos, sendo indicada para recebê-lo como mãe alguém que tenha débitos a serem resgatados relativamente à maternidade, uma vez que a gestação trará o desconforto gerado pelo assédio do vingador. Desde as primeiras ligações fluídicas do reencarnante ao corpo físico, passando pela infância, adolescência e até atingir a fase adulta, o espírito que retorna continua padecendo da influência de seu desafeto, que lhe permanece enlaçado pela força de sentimentos negativos. Mais uma vez o instituto da família é usado pela Providência para que o reencarnante, através de uniões conjugais provacionais, ofereça ao seu verdugo um novo corpo, como filho consangüíneo, para que o amor de paternal ou maternal o envolva e promova o resgate dos equívocos praticados no passado. 

6.2. Transformação do Ser: A arma fundamental de combate ao vampirismo é a transformação do Ser, visando as melhores condições de seu campo eletromagnético. Assim, quem sofre com tal influência espiritual negativa pode dela se livrar através do serviço no bem, com a prática do amor ao próximo. Ao reconhecer sua culpa, pode começar a construir a cura reajustando-se e servindo como exemplo ao seu perseguidor.
      É conveniente recordar os ensinamentos de Kardec quando afirma que “os espíritos inferiores não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos mais etéreos. Não morreriam no meio desses fluidos porque Espírito não morre, mas uma força instintiva os manteriam afastados dali como a criatura terrena se afasta de um fogo muito ardente ou de uma luz muito deslumbrante.” (A Gênese, cap. XIV, item 11). 
      Sem esta transformação, as tentativas externas de desligamento das entidades infelizes não encontram sucesso. Não adianta o trabalho de retirada dos vampiros, mesmo inconscientes, se o encarnado invoca mentalmente as entidades, atraindo-as novamente para o seu convívio. O mesmo pode ser dito com relação à doutrinação das entidades. Embora efetuada com perseverança e métodos precisos, a medida exige tempo e tolerância fraternal, podendo encontrar obstáculo no fato do encarnado haver se convertido em poderoso imã de atração. 

6.3. Oração: A oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece é vibração, energia, poder. A prece provoca um estado psíquico que revela nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em qualquer forma, pode emitir raios de espantoso poder. Toda criatura que cultiva a oração, com o devido equilíbrio do sentimento, transforma gradativamente, em foco irradiante de energias da divindade. 
      No Capítulo IV da obra Missionários da Luz, há o relato da prece de Cecília, que rezando pelo esposo, é cercada por luzes sublimes, rogando pela iluminação do companheiro a que parecia amar infinitamente. Seu coração se transformava num foco ardente de luz, do qual saíam inúmeras partículas resplandecentes, projetando-se sobre o corpo e sobre a alma do esposo com a rapidez de minúsculos raios. Os corpúsculos radiosos concentravam-se em massa, destruindo as pequenas formas horripilantes do vampirismo devorador. 

7. CASOS DE VAMPIRISMO NA LITERATURA ESPÍRITA. 

      Além daqueles mencionados no decorrer do presente trabalho, a título de ilustração, são inúmeros os casos de vampirismo narrados na literatura espírita, com destaque para aqueles ilustrados por André Luiz: 

Nosso Lar - Caso da mulher cercada de pontos negros, que, chegada do Umbral, implora socorro do outro lado da cancela. O socorro é negado, em virtude de tratar-se de um forte vampiro, cujos pontos negros representavam cinqüenta e oito crianças assassinadas ao nascer. 

Obreiros da Vida Eterna - Cenas de vampirismo em uma enfermaria de hospital. "Entidades inferiores, retidas pelos próprios enfermos, em grande viciação da mente, postavam-se em leitos diversos, inflingindo-lhes padecimentos atrozes, sugando-lhes vampirescamente preciosas forças, bem como atormentando-os e perseguindo-os". 

Nos Domínios da Mediunidade - (capítulo X) Caso da Jovem Parricida (pág. 71 a 79) e Caso Pedro (capítulo IX) “uma convulsão epiléptica o obsessor ligando-se a Pedro, seguindo-se convulsão generalizada tônico-clônica, com relaxamento de esfíncteres. O mentor Aulus afirma ser possessão completa ou epilepsia essencial e analisa que, no setor físico, Pedro está inconsciente, não terá lembrança do ocorrido, mas está atento em espírito, arquivando a ocorrência e enriquecendo-se.” 
Libertação - (pág. 140 e 141) Caso da jovem Clorótica, que mantinha uma ligação mental com os seus obsessores, permitindo o domínio completo de sua mente, que utilizavam como se fosse a deles. Encontrava-se praticamente desapossada de seu livre-arbítrio e suas reações não mais lhe pertenciam, pois expressavam a vontade das entidades que funcionavam como seus algozes. E caso Margarida- Gregório (p. 110), onde o personagem Gregório vampiriza antiga companheira de nome Margarida, quando solicitado pelo mentor Gúbio a interromper a vampirização que colocava a vida de Margarida em perigo, afirma ter necessidade do alimento psíquico que só a mente de Margarida pode proporcionar. 

Entre a Terra e o Céu - (cap. III) Caso Odila- Zulmira: A jovem senhora é Zulmira, e a irmã desencarnada que lhe vampiriza o corpo é Odila, a primeira esposa de Amaro, dolorosamente transfigurada pelo ciúme a que se recolheu. Empenhada em combater aquela que considera inimiga, imanta-se a ela, através do veículo perispirítico, na região cerebral, dominando a complicada rede de estímulos nervosos e influenciando os centros metabólicos, com o que lhe altera profundamente a paisagem orgânica. 

No Mundo Maior - (pág. 37 a 74) Caso Pedro-Camilo, 20 anos sob a atuação de um único obsessor. Durante esse período, o quimismo espiritual ou a fisiologia do perispírito se desequilibrou e, conseqüentemente, desencadeou distúrbios orgânicos, entre os quais a ameaça de amolecimento cerebral. 

8. CONCLUSÃO 

      Dias da Cruz, no livro “Instruções Psicofônicas” Espíritos Diversos, através de mensagem psicografada por Francisco C. Xavier, afirma ser imperativo o uso dos antissépticos do Evangelho para garantir a higiene mento-psíquica. E prossegue: 
      “Bondade para com todos, trabalho incansável no bem, otimismo operante, dever irrepreensivelmente cumprido, sinceridade, boa-vontade, esquecimento integral das ofensas recebidas e fraternidade simples e pura, constituem sustentáculo de nossa saúde espiritual.” (...) Procurando, pois, o Senhor e aqueles que o seguem valorosamente, pela reta conduta de cristãos leais ao Cristo, vacinemos nossas almas contra as flagelações externas ou internas da parasitose mental.” 
      A prática do bem rompe os sentimentos inferiores, produzindo, além da própria transformação de quem o pratique, também a daqueles que a ele se agrega pelos vínculos do ódio e da vingança, pelo exemplo de fraternidade. 
      Desse modo, os espíritos vingadores, ao encontrar a vítima transformada pelo esforço na prática do bem, da mesma forma como foram atraídos pelas suas fraquezas, serão contagiados pela nova situação e, em conseqüência, desestimulados a prosseguirem a perseguição.
      É possível concluir que pela prática da caridade, é possível obter a transformação moral necessária para se modificar e aos inimigos, evitando-se dolorosos resgates reparatórios. 


Por Fernanda Louro Figueras


BIBLIOGRAFIA 

O Espiritismo de A a Z, FEB 
Evolução em Dois Mundos - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Missionários da Luz - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Nosso Lar - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Obreiros da Vida Eterna - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Nos Domínios da Mediunidade - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Libertação- FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Entre a Terra e o Céu - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
No Mundo Maior - FEB - F. C. Xavier / André Luiz 
Estudando a Mediunidade- Martins Peralva 
Revista Cristã de Espiritismo nº 12, páginas 30-32, Marlene Rossi Severino Nobre, Associação Médico-Espírita do Brasil 
A Gênese, FEB, Allan Kardec 
O Livro dos Médiuns, FEB, Allan Kardec 
Instruções Psicofônicas- Espíritos Diversos, FEB- Francisco C. Xavier/ Dias da Cruz
Fonte:http://www.mundoespirita.net/vampirismo.html

quarta-feira, 9 de julho de 2014

CARL DU PREL

De militar a filósofo 
O Barão Carl Du Prel, destacado filósofo e um dos maiores pensadores modernos, foi um dos mais 
sutis pesquisadores das coisas do Espírito. 
Nasceu em Landshut, Baviera (Alemanha), em 3 de abril de 1839 e desencarnou em Heiligkreuz 
(Tirol), no ano de 1899. Ingressou no Exército para satisfazer às aspirações de seu pai. Promovido 
a tenente, tomou parte em várias batalhas na Baviera. Comandou o campo de concentração em 
Nemburg. Abandonou a carreira militar em 1872, no posto de capitão. 
Passou a maior parte de sua vida em Munich. Dedicou-se primeiramente aos estudos de filosofia e 
estética. Influenciado pela filosofia de Kant, inclinou-se, sob a orientação de Hartmann, a uma 
aproximação entre Schopenhauer e o darwinismo. 

Posteriormente, interessou-se pelo estudo dos fenômenos espíritas. 
Espírita convicto 
A primeira edição alemã de Animismo e Espiritismo, em que Alexandre Aksakof refutou a obra de Hartmann, foi publicada sob
o título A hipótese dos Espíritos e seus fantasmas. Aparentemente, essa polêmica originou a conversão de Du Prel ao
Espiritismo. É o que se depreende do fato de, tão logo Aksakof, por motivo de saúde, haver encerrado a controvérsia, Du Prel
encarregar-se de sustentá-la contra o antigo mestre. 
Doutor em filosofia pela Universidade de Tubingen, Carl Du Prel participou, juntamente com Lombroso, Schiaparelli, Chiaia,
Brofferio, Ermacora, Richet e Aksakof, das famosas experimentações mediúnicas realizadas em Milão no ano de 1892. 
A produção bibliográfica de Carl Du Prel ultrapassa duas dezenas de obras. Entre elas, merecem destaque O Espiritismo, 
Lucidez e ação à distância e A descoberta da alma por meio das ciências ocultas. 
O filósofo escreveu: "Enquanto o homem permanecer na dúvida se é uma criatura física e mortal ou um ser metafísico
imortal, não terá o direito de gabar-se da sua consciência pessoal, nem de limitar-se a ter a morte como um salto nas trevas. 
Isso não convém, sobretudo, a um filósofo, cujo primeiro dever, segundo Sócrates, é de conhecer-se a si mesmo." 
Fonte: GODOY, Paulo Alves. Personagens do Espiritismo.
São Paulo, Edições FEESP, 1990
Fonte:http://www.searabendita.org.br/site/datafiles/uploads/grandes_vultos/carl_du_prel.pdf

Centro de Planejamento de Reencarnações

Como se processam as reencarnações? Existem métodos, planejamentos, diretrizes e escolhas? Podemos decidir qual corpo tomaremos na nova encarnação? Todas as pessoas possuem esta liberdade? E os detalhes do corpo, como altura, peso, traços faciais, cor dos olhos, cabelos e pele e outras minúcias, são obra do acaso, herança genética ou fruto de elaborada engenharia celeste? Somos "assim ou assado" porque Deus quer ou quis ou haverá, no Além, por trás de cada ser renascido, um sofisticado instituto de planejamento de reencarnações?
Se a sua mente vive repleta de perguntas sobre o assunto, se a sua inteligência visualiza outra dinâmica para o incessante vaivém da vida, se você não suporta mais ouvir respostas do tipo "porque sim", "só Deus sabe" e "tá na Bíblia" para explicar tantas e tão angustiantes questões, aqui estão algumas explicações bem mais conclusivas... e coerentes! - Instituto André Luiz.
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Do livro: Missionários da Luz
Série: Nosso Lar
Autor: André Luiz (Espírito)
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
"A sós com Alexandre, mentor devotado e amigo, comecei a meditar na possibilidade de contribuir igualmente no caso que se me deparava. Nunca tivera oportunidade de acompanhar, de perto, um processo de reencarnação, estudando os ascendentes espirituais nas questões da embriologia. Não seria interessante, para mim, utilizar a experiência? Nesse propósito, dirigi-me ao instrutor, sem falar, porém, da minha pretensão em sentido direto:
- Notável para mim a solicitação de hoje -exclamei. - Longe estava de pensar, no mundo, na multiplicidade de tarefas atribuídas aos benfeitores e missionários desencarnados. A extensão do serviço em nosso campo de ação assombraria a qualquer mortal.
- Sem dúvida - respondeu o mentor, atencioso -, os trabalhos se desdobram em todas as direções. O pedido de Herculano vem focalizar um dos mais importantes problemas da felicidade humana: o da aproximação fraternal, do perdão recíproco, da semeadura do amor, através da lei reencarnacionista.
Alexandre meditou alguns momentos e continuou:
- O caso é típico. O drama de Segismundo é demasiadamente complexo para ser comentado em poucas palavras. Basta, todavia, recordar que ele, Adelino e Raquel são os protagonistas culminantes de dolorosa tragédia, ocorrida ao tempo de minha última peregrinação pela Crosta. Em seguida a uma paixão desvairada, Adelino foi vítima de homicídio; Segismundo, do crime; e Raquel, do prostíbulo. Desencarnaram, cada um por sua vez, sob intensa vibração de ódio e desesperação, padecendo vários anos, em zonas inferiores. Mais tarde, por intercessão de amigos redimidos, os antigos cônjuges obtiveram a volta ao corpo físico, a fim de santificarem os laços sentimentais e se reaproximarem dos antigos adversários. Mas, como acontece quase sempre, os heróis na promessa fraquejam na realização, porque se apegam muito mais aos próprios desejos que à compreensão da Vontade Divina. De posse dos bens da vida física, nega-se Adelino a perdoar, recapitulando erradamente as lições do passado. Antes mesmo da reencarnação do antigo transviado, já se manifesta contrário a qualquer auxílio. Sempre o velho círculo vicioso - quando fora da oportunidade bendita de trabalho terrestre e vendo a extensão das próprias necessidades, desvela-se o companheiro em prometer fidelidade e realização, mas, logo que se apossa do tesouro do corpo físico, volta ao endurecimento espiritual e ao menosprezo das leis de Deus.
Calou-se o mentor, por alguns instantes, acentuando em seguida:
- Buscarei, porém, chamá-los à recordação dos compromissos.
Neste ínterim, entendendo que a oportunidade era preciosa, solicitei:
- Ser-me-ia possível acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito. Poderia talvez adquirir valores significativos para o serviço do próximo e para meu benefício pessoal. Ignoro até quando me será permitido estudar em sua companhia e estimarei o aproveitamento integral de semelhante oportunidade.
Alexandre sorriu, compassivo, e falou:
- Não tenho objeções. Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem algum conhecimento prévio do assunto. Em toda edificação verdadeiramente útil, não podemos prescindir da base. Temos bons amigos no Planejamento de Reencarnações, serviço muito importante em nossa colônia espiritual, diretamente relacionado com as atividades do Esclarecimento. Nessa instituição durante alguns dias, você terá uma idéia aproximada de nossa tarefa, portas adentro de semelhantes trabalhos. Grande percentagem de reencarnações na Crosta se processa em moldes padronizados para todos, no campo de manifestações puramente evolutivas. Mas outra percentagem não obedece ao mesmo programa. Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos, e, conseqüentemente, em responsabilidade, o processo reencarnacionista individual é mais complexo, fugindo à expressão geral, como é lógico. Em vista disso, as colônias espirituais mais elevadas mantêm serviços especiais para a reencarnação de trabalhadores e missionários.
As explicações eram sedutoras e relevantes e, compreendendo a importância dos esclarecimentos para meu pobre espírito, Alexandre continuou:
- Quando me refiro a trabalhadores, falo dos companheiros não completamente bons e redimidos, mas daqueles que apresentam maior soma de qualidades superiores, a caminho da vitória plena sobre as condições e manifestações grosseiras da vida. Em geral, como acontece a nós outros, são entidades em débito, mas com valores de boa Vontade, perseverança e sinceridade, que lhes outorgam o direito de influir sobre os fatores de sua reencarnação, escapando, de certo modo, ao padrão geral. Claro que nem sempre tais alterações se verificam em condições agradáveis para a experiência futura. Os serviços de retificação representam tarefas enormes.
E desejando imprimir fortemente em meu espírito a noção da responsabilidade, o instrutor prosseguiu, tornando mais grave a inflexão da voz: - O problema da queda é também uma questão de aprendizado e o mal indica posição de desequilíbrio, exigindo restauração e corrigenda. A evolução confere-nos poder, mas gastamos muito tempo, aprendendo a utilizar esse poder harmonicamente. A racionalidade oferece campo seguro aos nossos conhecimentos; entretanto, André, quase todos nós, trabalhadores da Terra, nos demoramos séculos no serviço de iluminação íntima, porque não basta adquirir idéias e possibilidades, é preciso ser responsável, e nem é justo tenhamos tão-somente a informação do raciocínio, mas também a luz do amor.
- Daí as lutas sucessivas em continuadas reencarnações da alma! - exclamei, vivamente impressionado.
- Sim - continuou meu amável interlocutor -, temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim. Por isso mesmo, a par de milhões de semelhantes nossos que evolvem, existem milhões que se reeducam em determinados setores do sentimento, porquanto, se já possuem certos valores da vida, faltam-lhes outros não menos importantes.
Identificando-me a dificuldade para compreender-lhe o ensinamento de maneira integral, meu orientador voltou a dizer:
- Embora na condição de médico do mundo, acredito que você não tenha sido completamente estranho aos estudos evangélicos.
- Sim, sim - retruquei -, tenho as minhas recordações nesse sentido.
- Pois bem, o próprio Jesus nos deixou material de pensamento para o assunto em exame, quando nos asseverou que se a nossa mão ou os nossos olhos fossem motivos de escândalo deveriam ser cortados ao penetrarmos no templo da vida. Compete-nos transferir a imagem literal para a interpretação simples do espírito. Se já falimos muitas vezes em experiências da autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência, não seria lógico receber idêntica oportunidade nos trabalhos retificadores.
Compreendera claramente onde Alexandre pretendia chegar com os seus esclarecimentos amigos. - É para a regulamentação de semelhantes serviços que funciona em nossa colônia espiritual, por exemplo, o Planejamento de Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher ensinamentos preciosos.
E, atendendo-me às necessidades como pai afetuoso, apresentou-me o instrutor, no dia imediato, à imponente instituição.
Constituía-se o movimentado centro de serviço de vários prédios e numerosas instalações. Árvores acolhedoras enfíleiravam-se através de extensos jardins, imprimindo encantador aspecto à paisagem. Reconheci logo que o instituto se caracterizava por grande movimento. Entidades insuladas ou em pequenos grupos iam e vinham, estampando atencioso interesse na expressão fisionômica. Pareciam sumamente despreocupadas de nossa presença ali, porque, quando não passavam sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em profundos pensamentos, iam em grupos afetuosos, alimentando discretas conversações, multo graves e absorventes, ao que me parecia. Muitos desses irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam reduzidos rolos de substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente aos quais não possuía eu, até então, a mais leve notícia.
Alexandre, porém, como sempre, veio em socorro de minha estranheza, explicando, bondosamente:
- As entidades sob nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera, interessados em reencarnações próximas. Nem todos estão diretamente ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em trabalho de intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos. Os rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário estabelecer planos adequados aos fins essenciais.
- E a lei da hereditariedade fisiológica? perguntei.
- Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente geral. Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços «intercessórios», as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de redenção.
A essa altura da palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor o limiar.
Achamo-nos, em breve, num dos gabinetes extensos do edifício principal, aonde um dos numerosos amigos do orientador veio atender-nos atenciosamente.
Apresentou-me Alexandre ao Assistente Josino, que me recebeu com extrema gentileza e fidalguia de trato. Esclareceu o instrutor o objetivo de nossa visita. Desejava me fosse conferida a possibilidade de visitar a instituição de planejamento, quantas vezes me fosse possível durante a semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras, referentemente ao trabalho de auxílio nas atividades reencarnacionistas. O Assistente prometeu a melhor boa vontade. Conduzir-me-ia a colegas dele, para que me não faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias experiências à minha observação, para que eu retirasse delas o máximo proveito e, por fim, quanto estivesse ao seu alcance, guiaria meus impulsos no aprendizado.
Felicitavam-me o íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não só pela recepção carinhosa, senão também pelo ambiente educativo. Não longe de nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal.
Identificando-me a admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito de fazer-se ouvido por mim:
Talvez André não conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao aparelho físico terrestre. - Em verdade - ajuntei - ignorava, até agora, que o corpo carnal fosse, entre nós, objeto de tamanhos cuidados. Não sabia que a nossa colônia contasse com instituição desse teor.
- Como não, meu amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho - o corpo físico na Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai. Constitui primorosa obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a felicidade de colaborar. Quanto devemos à máquina humana pelos seus milênios de serviço a favor de nossa elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a extensão de semelhante débito.
E, fixando os modelos que me provocavam assombro, acentuou:
- Todo o nosso zelo, no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do quanto deveríamos realizar em benefício do aprimoramento da máquina orgânica.
Embora hesitante, ousei perguntar:
- Todos os núcleos de espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho dessa natureza?
Foi Alexandre quem respondeu, com a delicadeza habitual:
- Em todas as colônias de expressão elevada, essas tarefas são desempenhadas com infinito carinho. O auxílio à reencarnação de companheiros nossos traduz o nosso reconhecimento ao aparelho físico que nos tem proporcionado tantos benefícios; através do tempo.
Recordei, porém, que o meu pai terrestre, um dia, voltara à experiência carnal, procedendo das zonas francamente inferiores, e indaguei:
- E aqueles que regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas, terão o mesmo generoso auxílio?
Desejando imprimir à pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei:
- Meu genitor, na derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à esfera carnal em condições bem amargas...
Alexandre interrompeu-me o curso da frase, ponderando:
- Compreendemos. Se for ele criatura de razão esclarecida, embora não iluminada, permanecia após a morte em estado de queda e não deve ter voltado à bendita oportunidade da escola física sem o trabalho «intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de nosso plano. Nesse caso, terá recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais altas, que lhe terão endossado as promessas no serviço regenerador. Se ele foi, porém, criatura em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na qual não teria regressado em condições amargurosas, contou ele naturalmente com o abençoado concurso dos trabalhadores espirituais que velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos reencarnacionistas, em processos naturais. Em face dos esclarecimentos do instrutor, entendi as diferenças e tranqüilizei o coração.
Fosse porque a palestra escalpelara melindroso assunto de família humana, fosse pelo propósito de me deixarem a sós com as minhas profundas reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o orientador e o assistente entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos motivos de conversação para o meu aprendizado.
Passei então a observar detidamente os modelos masculino e feminino, não longe de meus olhos. Muito gentil Josino pousou a destra, de leve, nos meus ombros, e falou-me:
- Aproxime-se das criações educativas. Você lucrará muito, observando de perto.
Não contive um gesto de agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis amigos, acercando-me das figurações ali expostas. Detive-me na contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de linhas, qual arte helênica de sabor antigo.
O modelo, estruturado em substância luminosa, constituía, a meu parecer, a mais primorosa obra anatômica até então sob minha análise. Semelhava-se aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa divinal.
Fixei-lhe as minuciosidades com espanto. Nunca vira semelhante perfeição de minudências fisiológicas. Toda a musculatura estava, ali, formada em fibras radiosas. Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se fios de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral. Determinadas fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular das pálpebras, no triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectineo, nas eminências tenar e hipotênar até o extensor dos dedos, eram mais brilhantes. Do exame de superfície, passei a observações mais profundas, identificando as disposições maravilhosas das figuras representativas da circulação linfática e sanguínea. Oh! Os órgãos estavam todos ali, vibrando em obediência a dispositivos elétricos para demonstrações educativas. Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em cor encarnada.
Surpreendido, rendi silencioso preito de admiração à Sabedoria Divina, que nos concede o sublime aparelho físico terrestre para as nossas aquisições eternas.
Impressionava-me a composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do tronco celíaco, à maneira de pequenos rios de luz, destacando-se em expressão a luminosidade das cavas superior e inferior, das jugulares externa e interna, das artérias e veias axilares, da veia porta, das artérias esplênica e mesentérica superior, da aorta descendente, dos vasos ilíacos e dos gânglios da virilha.
Cobrindo as maravilhas orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se a capa radiante estruturada em fios tenuíssimos de luz feérica. A região do cérebro parecia uma lâmpada em azul suavíssimo, cuja luminosidade se ligava em sentido direto ao cerebelo, descendo em seguida pela medula espinhal até o plexo sagrado, onde o foco brilhante adquiria expressão mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande ciático.
Transferi minhas observações para a forma feminina, igualmente radiosa, concentrando meu potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto à maneira de constelação, entre as peças orgânicas. Desde a epífise, situada entre os hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as glândulas pareciam formar belo sistema luminoso, semelhante a pequenos astros de vida, congregados em sentido vertical, qual antena rútila atraindo a luz procedente de Mais Alto. Cada qual apresentava sua forma específica, suas expressões vibratórias, suas características particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a pequenino sol azulado, mantendo em seu campo de atração magnética todas as demais, desde a hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida, garantindo a coesão e o movimento da sua grande família de planetas e asteróides.
Minha estupefação não tinha limites.
É forçoso confessar, porém, que minha surpresa se distendia muito mais, ao fixar os eflúvios brilhantes que emanavam dos centros genitais, semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário cheio de luz.
Como eu dirigisse ao meu instrutor um olhar de indagação, seus esclarecimentos não se fizeram esperar.
- Na Crosta - disse-me Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -, em sentido geral ainda existe muita ignorância acerca da missão divina do sexo. Para nós, porém, que desejamos valorizar as experiências, a paternidade e a maternidade terrestres são sagradas. A faculdade criadora é também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros, a porta bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera do Globo, a visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim, enquanto, para muitos de nós, a visão terrestre significa trabalho edificante e salutar. Não alcançaremos, porém, a terra prometida do serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem e da mulher. Compreendi, com novo espírito, o caráter sublime das energias sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos os encarnados que ainda não conseguiram edificar o respeito e o entendimento, relativos aos sagrados órgãos procriadores. Meu orientador, entretanto, como antena receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me, bondoso:
- Relegue ao esquecimento qualquer expressão das reminiscências menos construtivas. Os que ultrajam o sexo, escrevendo, agindo ou falando, já são grandes infelizes por si mesmos.
Guardei a lição e abençoei a nova experiência que começava.
Despediu-se Alexandre, deixando-me na grande instituição de planejamento, onde o Assistente Josino, ocupado nos encargos de seu ministério, me confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos serviços informativos da casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de gentileza e carinho. Senti imediatamente que o meu aprendizado ali se iniciava com imenso proveito. Manassés era um livro volante. Seus pareceres e informes traduziam valiosos ensinamentos.
Aproximando-nos dos pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores traçavam planos para reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro procurado por uma entidade simpática que lhe pedia informações. Manassés apresentou-ma, otimista. Tratava-se dum colega que, depois de quinze anos de trabalho nas atividades de auxílio, regressaria à esfera carnal para a liquidação de determinadas contas. O recém-chegado parecia hesitante. Via-se-lhe o receio, a indecisão.
- Não se deixe dominar pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a ele, infundindo-lhe bom ânimo. - O problema do renascimento não é assim tão intrincado. Naturalmente, exige coragem, boas disposições.
- Entretanto - exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair novos débitos ao invés de pagar os velhos compromissos. É tão penoso vencer na experiência carnal, em vista do esquecimento que sobrevém à encarnação...
- Mas seria muito mais difícil triunfar guardando a lembrança - redargüiu Manassés, incontinenti.
Prosseguindo, sorridente, acrescentou:
- Se tivéssemos grandes virtudes e belas realizações, não precisaríamos recapitular as lições já vividas na carne. E se apenas possuímos chagas e desvios para rememorar, abençoemos o olvido que o Senhor nos concede em caráter temporário. Esforçou-se o outro para esboçar um sorriso e objetou:
- Conheço-lhe o otimismo; quisera ser igualmente assim. Voltarei confiante no concurso fraterno de vocês.
E modificando o tom de voz, indagou:
- Pode informar se o meu modelo está pronto? - Creio que poderá procurá-lo amanhã - tornou Manassés, bem disposto -; já fui observar o gráfico inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão amorosa dos amigos bem orientados, sobre o defeito da perna. Certamente, lutará você com grandes dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe fará grande bem.
- Sim - disse o outro, algo confortado -, preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações. Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma sentinela contra a devastação do amor-próprio excessivo.
- Muito bem! - respondeu Manassés, francamente otimista.
- E pode informar-me ainda a média de tempo conferida à minha forma física futura?
- Setenta anos, no mínimo - redargüiu meu novo companheiro, contente.
O outro fixou uma expressão de reconhecimento, enquanto Manassés continuava:
- Pondere a graça recebida, Silvério, e, depois de tomar-lhe a posse no plano físico, não volte aqui antes dos setenta. Trate de aproveitar a oportunidade. Todos os seus amigos esperam que você volte, mais tarde, à nossa colônia, na gloriosa condição de um «completista».
O interpelado mostrou um raio de esperança nos olhos, agradeceu e despediu-se.
As últimas observações de Manassés acenderam-me curiosidade mais forte. Não contive a indagação que me vagueava no pensamento e perguntei sem rebuços:
- Meu amigo, que significa a palavra «completista»?
Ele sorriu, complacente, e retrucou, bem-humorado:
- É o título que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia. Em geral, quase todos nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no desperdício das forças fisiológicas. Perambulamos por lá, fazendo alguma coisa de útil para nós e para outrem, mas, por vezes, desprezamos cinqüenta, sessenta, setenta per cento e, freqüentemente, até mais, de nossas possibilidades. Em muitas ocasiões, prevalece ainda, contra nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida em atividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o coração. Aqueles, porém, que mobilizam a máquina física, à maneira do operário fidelíssimo, conquistam direitos muito expressivos em nossos planos. O «completista», na qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de trabalho.
Semelhante notícia representava para mim valiosa revelação. Nada mais legítimo que dotar o servidor fiel de recursos completos. E lembrei-me dos desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos evolutivos, criando laços escravizantes, enraizando-se no apego aos quadros transitórios da existência material, alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e envenenando a alma. Num transporte de justificada admiração, redargúi:
- Recordando o cativeiro dos Espíritos encarnados no plano da sensação, consola-nos saber que há um prêmio aos raríssimos homens que vivem na sublime arte do equilíbrio espiritual, mesmo na carne.
- Sim - disse Manassés, aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que possa parecer, semelhantes exceções existem no mundo. Passam, freqüentemente, para cá, entre os anônimos da Crosta, sem fichas de propaganda terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade superior.
E dando-me a impressão de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele mesmo, acrescentou:
- Há muitos anos me esforço para conseguir a condição dos «completistas»; no entanto, até agora continuo em fase de preparação...
Compreendi que Manassés, tanto quanto eu, trazia regular bagagem de recordações menos felizes, com respeito ao uso que fizera do corpo terreno nas experiências passadas e procurei modificar a orientação da palestra:
- Sabe de algum «completista» que tenha regressado à Crosta? – interroguei.
- Sim.
- Naturalmente - continuei, curioso - terá escolhido um organismo irrepreensível.
Meu novo companheiro mostrou significativa expressão fisionômica e acentuou:
- Nenhum dos que tenho visto partir, embora os méritos de que se encontravam revestidos, escolheram formas irrepreensíveis, quanto às linhas exteriores. Solicitaram providências em favor da existência sadia, preocupando-se com a resistência, equilíbrio, durabilidade e fortaleza do instrumento que os deveria servir, mas pediram medidas tendentes a lhes atenuarem o magnetismo pessoal, em caráter provisório, evitando-se-lhes apresentação física muito primorosa, ocultando, assim, a beleza de suas almas para a eficiente garantia de suas tarefas. Assim procedem, porquanto, vivendo a maioria das criaturas no jogo das aparências, quando na Crosta Planetária, incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os missionários do Bem, se lhes conhecessem a verdadeira condição, através das vibrações destruidoras da inveja, do despeito, da antipatia gratuita e das disputas injustificáveis. Em vista disso, os trabalhadores conscientes, na maioria das vezes, organizam seus trabalhos em moldes exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao influxo das paixões devastadoras das almas em desequilíbrio.
Entendi a extensão do esclarecimento e meditava na grandeza dos princípios espirituais que regem a experiência humana, quando Manassés acrescentou, após longa pausa:
- As mentes juvenis, quais crianças do mundo, brincam com o fogo das emoções; todavia, os espíritos amadurecidos, mormente quando chegam à situação de «completistas», abandonam toda experiência que os possa distrair no caminho de realização da Vontade Divina.
Em seguida, convidado pelo meu novo amigo, penetrei numa das dependências consagradas aos serviços de desenho. Pequenas telas, demonstrando peças do organismo humano, estavam ordenadamente em todos os recantos. Tinha a impressão fiel de que me encontrava num grande centro de anatomistas, cercados de auxiliares competentes e operosos. Espalhavam-se desenhos de membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e para todos os gostos.
- Como sabe - observou Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação ou de tarefas especializadas na superfície do Globo, a reencarnação nunca pode ser vulgar. Para isso, trabalham aqui centenas de técnicos em questões de Embriologia e Biologia em geral, no sentido de orientar as experiências individuais do futuro de quantos irmãos se ligam a nós no esforço coletivo.
Sentindo espontânea veneração, contemplei os servidores que se inclinavam atenciosos, arquitetando o porvir de muitos companheiros. Como era complexa a oportunidade de renascer! Que atividades intensas exigiam dos benfeitores espirituais! Ao meu gesto de estranheza, respondeu Manassés numa síntese expressiva:
- Você não ignora que os homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora utilizando os recursos sempre sagrados da Natureza, edificam suas habitações em moldes mais simples e rudimentares; todavia, o homem que já atingiu certo padrão de ideal, desenvolvendo faculdades superiores, Constrói o lar, organizando plantas prévias.
Indicando o quadro interior, extremamente movimentado, acrescentou, sorridente:
- Não estamos aqui senão cogitando, igualmente, de projetos para futuras habitações carnais. O corpo humano não deixa de ser a mais importante moradia para nós outros, quando compelidos à permanência na Crosta. Não podemos esquecer que o próprio Divino Mestre classificava-o como templo do Senhor,
Impressionado, seguia atenciosamente os trabalhos em curso. Dispúnhamo-nos a seguir adiante, quando uma irmã, de porte muito respeitável, se aproximou saudando Manassés afetuosamente. Ele respondeu com gentileza e apresentou-ma.
- É nossa irmã Anacleta.
Cumprimentei-a, sentindo-lhe a simpatia pessoal.
- Trata-se de uma das nossas trabalhadoras mais corajosas - acentuou o funcionário do trabalho de informações.
A senhora sorriu, algo contrafeita por se ver focalizada na opinião franca do companheiro. Todavia, Manassés, com o otimismo que lhe era característico, prosseguiu:
- Imagine que voltará à Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de profunda abnegação por quatro entidades que, há mais de quarenta anos, se debatem em regiões abismais das zonas inferiores.
- Não vejo nisso abnegação alguma - atalhou à senhora, sorrindo -, cumprirei tão somente um dever.
E fixando-me, desassombrada e serena, asseverou:
- As mães que não completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto dos filhos amados, devem ser bastante fortes para recomeçarem os serviços imperfeitos. Esse o meu caso. Não se deve mencionar sacrifício onde existe apenas obrigação.
Interessava-me a história daquela irmã despretensiosa e simpática e, por isso mesmo, animei-me a perguntar-lhe:
- Regressará, então, dentro em breve? De qualquer maneira, sua resolução traduz devotamento e bondade. Não posso esquecer que também minha mãe voltou ao círculo da carne, tangida por sublime dedicação,
Notei que os olhos dela se encheram de lágrimas discretas, que não chegaram a cair, emocionada talvez com a minha observação sincera. Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a idéia de que não desejava continuar em conversação relativa ao assunto, disse-me, comovida:
- Muito grata pelo conforto de suas palavras. Mais tarde, ao se lembrar de mim, ajude-me com o seu pensamento amigo.
Nesse ponto da ligeira palestra, Manassés indagou:
- Já recebeu todos os projetos?
- Sim - respondeu ela -, não somente os que se referem aos meus pobres filhos, mas também a planta relativa à minha própria forma futura.
- Está satisfeita?
- Muitíssimo! - redargüiu a dama. - Na lei do Pai, a justiça está cheia de misericórdia e continuo na condição de grande devedora.
Em seguida, despediu-se, calma e afável. Manassés compreendeu-me a curiosidade e explicou:
- Anacleta é um exemplo vivo de ternura e devotamento, mas voltará às lutas do corpo a fim de operar determinadas retificações no coração materno. Por imprevidência dela, noutro tempo, os quatro filhos, que o Senhor lhe confiara, caíram desastradamente. A pobrezinha albergava certas noções de carinho que não se compadecem com a realidade. Seu esposo era homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca se esqueceu dos deveres que lhe prendiam as atividades de homem de bem ao campo da sociedade em geral. Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva, mas a esposa, embora devotadíssima, contrariava-lhe a influência do lar, viciando o afeto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada. E, como conseqüência indireta, quatro almas não encontraram recursos para a jornada de redenção. Três rapazes e uma jovem, cuja preparação intelectual exigira os mais árduos sacrifícios, caíram muito cedo em desregramentos de natureza física e moral, a pretexto de atenderem a obrigações sociais. E tão degradantes foram esses desregramentos que perderam muito cedo o templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições. Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação de si própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas purificadoras da Crosta.
- Quantos anos gastaram para obter semelhante concessão? - perguntei, impressionado.
- Mais de trinta.
- Imagino-lhe os sacrifícios futuros! - exclamei.
- Sim - esclareceu Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque dois dos rapazes deverão regressar na condição de paralíticos, um na qualidade de débil mental e, para auxiliá-la na viuvez precoce, terá tão-somente a filha, que, por si mesma, será também portadora de prementes necessidades de retificação.
Ia dizer de minha profunda surpresa, diante do mecanismo de introdução ao serviço reencarnacionista, quando outra irmã se acercou de nós, procurando por Manassés.
Depois das saudações afetivas, explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao meu novo amigo:
- Desejo sua obsequiosa interferência na retificação do meu plano.
E abrindo pequeno mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um organismo de mulher, acentuou:
- Veja bem o meu projeto para o sistema endocrínico. Sei que os amigos me favoreceram, planejando-o com muita harmonia nas menores disposições; entretanto, desejaria modificações...
- Em que sentido? - indagou o interpelado, r surpreso.
A recém-chegada indicou os pontos do projeto onde se localizava o colo e falou:
- Fui advertida por benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na Crosta, dentro de linhas impecáveis para a forma física e, em razão disso, para que eu tenha mais probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que me proponho desempenhar, estimaria que a tireóide e as paratireóides não estivessem tão perfeitamente delineadas. Como sabe, Manassés, minha tarefa não será fácil. Devo reaver um patrimônio espiritual de grandes proporções. Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita harmonia física me perturbaria as atividades.
O novo companheiro endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe:
- Tem razão. A sedução carnal é imenso perigo, não só para aqueles que emitem a sua influenciação, como também para quantos a recebem. - Prefiro a fealdade corpórea - tornou ela. - Não estou interessada num corpo de Vênus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade. Manassés prometeu interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova interlocutora, passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de órgãos do corpo humano.
Admirava, tomado de profunda impressão; aqueles gráficos numerosos que se alinhavam, com absoluta ordem, demonstrando o cuidado espiritual que precede o serviço de reencarnações, quando o meu amigo ponderou:
- A medicina humana será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e complexidade dos fatores mentais no campo das moléstias do corpo físico. Muito raramente não se encontram as afecções diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral. As preocupações excessivas com os sintomas patológicos aumentam as enfermidades; as grandes emoções po0dem curar o corpo ou aniquila-lo. Se isso pode acontecer na esfera de atividades vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias, milhares de almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio da mente. O médico do porvir conhecerá semelhantes verdades e não circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel. Desejando, porém, prosseguir nos esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou:
- Aqui temos o projeto de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide? Isso indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade física. Trata-se, porém, de escolha dele.
E porque extrema curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou:
- Esse amigo, faz mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre homem: a facadas; logo que se entregou ao homicídio, como acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu resultados terríveis por muitos anos. Como não ignora, o ódio recíproco opera igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a vingar-se dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques sistemáticos pelo pensamento mortífero. Em suma, quando o homicida desencarnou, por sua vez, trazia o organismo perispiritual em dolorosas condições, além do remorso natural que a situação lhe impusera. Arrependeu-se do crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de largos padecimentos purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de resgate e penitência. Cresceu moralmente, tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões. Entretanto... A dívida permanece. O amor, contudo, transformou o caráter do trabalho de pagamento. O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em espetáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura completa, na carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria ferida, conquistando, dia a dia, a necessária renovação. Experimentará desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará incessantemente, desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no aparelho fisiológico; entretanto, se souber manter-se fiel aos compromissos novos, terá atingido, mais tarde, a plena libertação. Enquanto fixava no projeto minha melhor atenção, Manassés continuava:
- Segundo observamos, a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito a precisa transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor. O próprio Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que «o amor cobre a multidão dos pecados».
Examinei, impressionado, a planta educativa e. porque não encontrasse palavras bastante claras para pintar minha admiração, silenciei comovidamente.
Compreendendo-me o estado d’alma, o companheiro continuou:
- São inúmeros os projetos de corpos futuros em nossos setores de serviço. Depreende-se, da maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas em trabalho da ingente conquista de si próprias. Ninguém trai a Vontade de Deus, nos processos evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos os que tentam enganar a Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam por enganar a si mesmos. A vida é uma sinfonia perfeita. Quando procuramos desafiná-la, no círculo das notas que devemos emitir para a sua máxima glorificação, somos compelidos a estacionar em pesado serviço de recomposição da harmonia quebrada. E, durante alguns dias, ali permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os dons da vida «a cada um por suas obras»."
André Luiz
(Do livro "Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)
Fonte:http://www.institutoandreluiz.org/centro_de_planejamento_de_reencarnacoes.html